sábado, 16 de abril de 2011

idade de sempre

Quando eu era jovem e tinha um ano de idade nem me lembro do que gostava. Mas sei que não gostava de menina nenhuma, que não queria andar de bicicleta, que não queria uma casa maior que minha cama e dinheiro tinha um gosto ruim.
Quando eu era jovem e tinha uns oito anos me lembro vagamente de gostar de andar de bicicleta, empinar pipa e correr atrás do trem que cruzava os pampas. Mas ainda preferia ficar longe das garotas.
Quando eu era jovem e fiz quinze já não me apetecia tanto as bicicletas, as pipas e os trens. Nessa juventude o que me agradava era jogar bola e não ir a escola. As garotas de vinte eram velhas demais.
Quando eu era jovem aos vinte a melhor coisa era ir a escola namorar. E as mulheres de trinta pareciam quase minha mãe.
Quando eu era jovem perto dos trinta nada me dava mais prazer que o casamento. Achava engraçado achar bonita uma velha de quarenta.
Quando eu era jovem aos trinta e cinco minha filha enchia de prazer meu casamento. E me estranhava por começar a ver beleza nas quarentonas
Quando eu era jovem aos quarenta só pensava em como nossa casa tinha sido bem escolhida. E como continuava linda a minha esposa.
Quando eu era jovem de meio século comecei a gostar mais de ver futebol que de correr atrás de uma bola. E nesse tempo duas garotas de vinte e cinco não eram páreo para minha patroa de cinquenta.
Quando eu era jovem aos sessenta descobri que ainda não tinha visto nada na vida que se comparasse ao prazer de ter um neto. E as mulheres já não existiam mais além da minha eterna companheira.
Quando eu era jovem aos setenta encontrei tempo para não fazer nada e ainda sentir prazer em ir ao cinema segurando a mão da minha musa.
Quando eu era jovem aos oitenta me senti um menino dentro de um sonho enquanto cruzava os pampas naquele mesmo trem que corri atrás na infância.